Conversamos com Allan Caetano, que além de ser o coordenador artístico da Fundação Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, tem uma experiência rica como maestro, educador e gestor cultural. Neste bate-papo, Allan compartilhou sua visão e experiência, que refletem seu compromisso com a democratização da cultura e o desenvolvimento social por meio da música, valores que se alinham diretamente aos objetivos de transformação social presentes em nossas iniciativas. Confira abaixo.
1. Como a sua vasta experiência como regente e educador musical influencia a sua abordagem como consultor artístico da Fundação Conservatório?
Minha trajetória como músico, regente e educador não seguiu um caminho tradicional, mas foi construída por meio de metodologias de ensino coletivo. Essa experiência me permitiu trabalhar em projetos consolidados ao longo dos anos, que resultaram no crescimento real de músicos, famílias e comunidades, além de impactar a cultura de municípios inteiros. Essa vivência reforça minhas convicções: todos são capazes de desenvolver sua musicalidade; todos têm o direito constitucional ao acesso à cultura; e a música, a arte e a cultura devem ultrapassar os grandes centros e alcançar todas as pessoas.
2. Quais critérios são utilizados para selecionar os repertórios e artistas que participam dos projetos da Fundação Conservatório?
A seleção prioriza a excelência técnica e musical, garantida pelo nível dos músicos. O repertório de música erudita instrumental é vastíssimo, e sua escolha considera múltiplos fatores: o nível técnico do grupo, o perfil do público-alvo, o ambiente do evento (aberto, fechado, com ou sem sonorização), o tamanho da formação e a logística necessária. Além disso, avaliamos se a obra será executada em sua versão original, como transcrição ou arranjo adaptado. Em síntese, cada repertório é definido conforme as demandas específicas do projeto.
3. De que forma a Fundação Conservatório busca democratizar o acesso à música erudita e formar novas plateias?
A Fundação Conservatório atua por meio de iniciativas como o Programa Jornada Erudita, que leva concertos da Orquestra de Sopros Paulista a diversas regiões. Como São Paulo não possui um grupo oficial de sopros, a orquestra busca preencher essa lacuna e, quem sabe, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado, consolidar-se como referência estadual. Também destacamos o trabalho com o público infantil, com as apresentações de Pedro e o Lobo, de Prokofiev, uma das obras mais emblemáticas do repertório erudito, que desperta o interesse das crianças pela música clássica.
4. Quais são os seus planos para expandir o alcance e o impacto dos projetos musicais desenvolvidos pela Fundação Conservatório?
Nosso foco imediato é fortalecer os departamentos da Fundação por meio de projetos incentivados, integrando esforços para consolidar todos os grupos e iniciativas. A meta é garantir que cada projeto se torne sustentável, ampliando seu alcance e impacto social a longo prazo.
5. Como a Fundação Conservatório equilibra a tradição da música clássica com a exploração de novas linguagens e experimentações?
Minha nomeação reflete o compromisso da Fundação com um modelo inclusivo. A tradição clássica, embora fundamental, muitas vezes se mostrou excludente. Por isso, defendemos o ensino coletivo, em que o aprendizado musical respeita o ritmo individual de cada aluno. Como ensina o pedagogo Shinichi Suzuki: “Sem pressa e sem descanso, cada um no seu tempo”. Essa abordagem permite oportunizar o acesso à música sem abandonar a excelência técnica.
6. Qual é o papel da música na formação de crianças e jovens, e como a Fundação Conservatório se dedica a contribuir para esse processo?
A música, quando ensinada de forma sistemática e respeitosa, contribui para a formação integral em três dimensões:
– Individual: desenvolve disciplina, organização e autoconfiança por meio da prática instrumental;
– Social: promove a colaboração em turmas coletivas, onde alunos aprendem entre si e com os professores;
– Cultural: amplia o repertório artístico e o acesso a concertos, enriquecendo a bagagem cultural dos jovens.